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despindo a fantasia de tecnoburocrata

faz tempo que não venho aqui nesse lugar; lembrei de l. me sugerindo que escrevesse, mas isso já faz tanto tempo, talvez dois anos. fiquei esse tempo todo sem vir aqui. mais de dois anos. inimaginável algum tempo atrás, mas o que a internet se tornou? esse espaço que trazia para perto tanta coisa, e agora é simplesmente uma prisão de atenção.    queria estar offline, mas cá estou tentando trazer alguma ordem à mente. também buscando retomar uma prática e não viram completamente um tecnoburocrata , precisamos mesmo exercitar a mente para os assuntos além do trabalho e da internet-prisão .    (algo me diz que isto não será lido, o que me traz certo conforto)   as últimas vezes que estive aqui acredito eu que estava apaixonado. talvez ainda esteja, mas acredito que não mais, em vista da apatia que me envolve. pensando em "antes do amanhecer" e me deu quase uma saudade de me apaixonar. seria uma diversão nova em contraponto às últimas interações romântico-sexuais em...

arrastado pelos acontecimentos da semana

 vesti minha camisa de seda verde floresta e saí do quarto. levava comigo o necessário para ir embora sem precisar voltar, se fosse o caso, até mesmo deixaria aquela roupa para lá. andei pela lapa, do bairro de fátima ao catete, o sol esquentava e a seda, apesar de leve, me fazia suar. passei no salão e marquei um horário.   retornei a rua, caminhava sem rumo. pensei em comprar um livro. desisti. tinha comigo uma caneta, decidi então por comprar um cartão com a palavra SORTE em garrafais. sentei para um café, escrevi:   nunca foi SORTE sempre foi  chorei desnecessariamente. jamais enviei ou entreguei aquele cartão. reescrevi algumas vezes. colei as duas páginas e reescrevi no verso. não o enviei, mesmo assim. voltei ao salão, os olhos vermelhos de choro. disfarcei, como sempre, disfarcei muito bem e segui com as miudezas e pequenezas da vida. retornei o caminho, cabelo cortado, o calor opressivo do rio de janeiro me fazia suar cada vez mais. subi a nossa senhora de f...

pluvious metropolis

deitado de bruços, sinto minha saúde cada vez mais tornando-se frágil, a ponto de rasgar a pele que recobre meu tórax, fazendo aparecer as costelas, os músculos e, ali dentro, meus pulmões, meu coração. a chuva cai sobre toda a casa, batendo incessante nas telhas de amianto, escorrendo pelas escadas, alagando o portão. respiro normalmente, mas também acredito que faço uma força exagerada para manter-me assim. nas minhas fantasias, um homem me propõe e me salva desse martírio que é ter de ficar deitado de bruços ouvindo a chuva lá fora cair, um tédio que me assola sem possibilidade de escape, tal qual uma cidade sitiada por um exército monstruoso e sanguinário nada tem a fazer a não ser esperar por alguma intervenção divina poderosa a seu favor.  eu, contudo, também sei que essa fantasia não é nenhuma profecia, nenhum oráculo proferiu palavras nesse sentido; busco na minha memória, então, formas de sacralizar os desencontros da vida. de olhos fechados, um leve gingado desconcertado,...

motoqueiros entregadores (uma ilha imaginária dentro de outra no atlântico)

"camarão cinza de cabo frio que chegou" diz a gravação da kombi que anda pelas ruas do bairro. estou novamente paralisado, adormeci no meio de uma aula a distância. faz frio no rio de janeiro. deitado na cama, vestido mas sem cueca por baixo do short. pego no meu pau e penso a ditadura do pau ereto. lembro daquele dia e imediatamente broxo. penso em como fui um babaca com o lucas l. no outro dia, acho que ele nem vai querer mais sair comigo. acho que o sexo também não é compatível. eu queria poder comer alguém com vontade, e também ser comido com vontade. ao mesmo tempo, no mesmo dia. [lucas l. cantou v. cesar naquela v de viadão em meados de 2015, ou me cantou? estava bêbado e não tenho discernimento; alguns meses depois, numa haus of viadão na banca do andré, enquanto eu tentava flertar com alguém no limite da androginia, lucas l. - já a caminho do after com seus amigos - voltou, sentou ao meu lado no banco, me deu um beijo, riu, levantou e saiu correndo como uma menina col...

pessoa suburbana comum

permaneço em minha cama, me cubro com o lençol branco e estampa de folhas outonais. chove lá fora. as gatas sobem na cama e uma delas se aconchega entre minhas pernas, por cima dos lençóis, como se ali fosse seu ninho - caso gatos tivessem ninhos. o barulhinho de chuva, um pingo d'água intermitente parece cair em algo metálico, talvez seja uma daquelas latas de lixo enormes de metal, antigas, como a que uma vez furtaram lá de casa em 1994. nas últimas semanas me empenhei em dotar minha casa de um aspecto que me agradasse, sem gastar com grandes compras e objetos. comprei pregos e um martelo. arrastei os móveis, troquei-os de posição e de cômodos. outro dia comprei uma lata de lixo branca, de metal, não igual a que foi furtada em 1994, mas também com um estilo retrô. na saída do trabalho, comprei um bambu. deve ter 1,7m de altura, ou mais, quase da minha altura, e viajou comigo do santo cristo à freguesia. 4 amigas e um bambu viajante, se eu tivesse 4 amigas comigo em viagem. mas, n...

pizza expressa na ponte de Londres

maio começa com a promessa de mais um mês de reclusão. me estico na cama, o sol bate em meu tórax, minhas coxas, meu pau. estamos pegando sol, eu e a gata. coloco os pés no batente da janela. acredito que os vizinhos nao conseguem me ver assim pelado. os dias tem sido um passar de horas sem fim. às vezes o ar me escapa, me desespero. sinto fome quase que o tempo todo. entorno copos e copos de água, aos litros, seguido de idas e mais idas ao banheiro, penso que comprar descargas e torneiras com sensores de movimento são bons investimentos e que talvez deva me dedicar a automatizar a casa como um todo.  tusso um pouco, sinto frio, a água do banho cai gelada demais. penso que já é quase hora do almoço, e nesse período de quarentena, eu basicamente permaneço acordando cedo e comendo todas as refeições mais ou menos no mesmo horário. faço todas as refeições, as vezes até mesmo alguma extra. outro dia almocei duas vezes, uma as 13h e outra as 16h, e logo depois emendei um lanche...

água de colonia

passo um perfume que tenho há anos; a essa altura, todos os perfumes tem o mesmo cheiro, o de perfume já vencido. na infância eu lembro dos perfumes de minha vó, de minha mãe, todos com o mesmo cheiro forte, seco, todos os perfumes acabam por ficar com tons amadeirados, talvez? as minhas águas de colônias infantis também tinha esse mesmo cheiro. agora penso se já não as ganhava vencidas ou se na década de 90 era condição sine qua non que toda água de colônia tivesse esse cheirinho já de vencido, passado. então saio de casa, com esse cheirinho de quem já passou do tempo...

elevado do gasômetro

passo pelo elevado do gasômetro e vejo o navio pedra do sal - ancorado naquela parte abandonada do porto do rio de janeiro há tanto tempo que me pergunto se algum dia esse navio chegou a desbravar os mares deste planeta. faço esse trajeto há pelo menos dez anos. os últimos doze meses foram que nem fósforo ardendo em ventania: mal vimos, a chama já se apagou. tudo muito breve. cheguei à conclusão de que sou um poema ruim, poesia porca e baixa, mal rimada, ofensiva e agressiva. quis dormir abraçado mas não tinha ninguém. ninguém humano, sub-humano, sobre-humano. uma gata aninhada em minhas pernas, outra em meus pés.  no domingo dividi minha cama, foi uma conchinha boa que me lembrou outra longeva no tempo, mas não era a mesma coisa. mas como sou um poema ruim, me contive e tentei não pensar em nada que me remetesse àquilo de antes. o velho que nada de novo traz, nada de novo trouxe. do abuso, fiz carinho. do esquecimento, fiz espera. do que tinha em mim, deixei e...

sobre ceder na cama ou a supremacia do pau duro

naquela noite eu quase fui embora. levantei e me dirigi até a sala. deitei no sofá, descoberto, fazia frio. me enrolei em mim mesmo para me aquecer. ele veio e me abraçou, fez que eu voltasse para o quarto. eu não me mexi, ele insistiu. voltamos. antes ele tinha dito "alguém aqui tem que ceder"; o pau duro, latejando, mesmo no escuro eu podia ver isso. eu não queria transar mais. tentamos outra posição, não ia rolar. foi quando ele deitou para dormir e eu, claro, não dormi. não conseguiria depois disso tudo. sai para sala. na volta, fomos mais uma vez, eu não queria transar. ele cuspiu pouco, me comeu com força, disse que gostava quando eu gemia. eu pedi lubrificante, ele disse que queria daquela forma. eu tive que ceder, eu cedi.

coisas ditas quando bêbado

sento para escrever levemente bêbado. é bom me sentir bêbado e não frito. bêbado eu sinto mais, sinto tesão, meu pau fica excitado em vários momentos, eu me lembro de quando bêbado eu disse que te amava quando você me comia, eu por cima de ti, cavalgando em teu colo, teu pau dentro de mim. do alto de meus 28 anos eu me pergunto se sentirei isso de novo; não o prazer de sentar em alguém, isso acho que consegui sentir de novo, mas o de sentar alguém e dizer que o ama ao mesmo tempo; o de estarmos ao contrário, eu te penetrando, no sofá, você de costas para mim, eu gozo dentro de ti. puxo-te para um abraço e me pergunto se sentirei isso de novo.